Costumo vivenciar cada mês como um pequeno-longo período de tempo no qual começo de um jeito e saio completamente de outro. Às vezes muito cheia, às vezes muito vazia, às vezes convencida de que sempre, quando movo um móvel de lugar, algo em mim acabou mudando também.
Desde que comecei a entender um pouco mais sobre Tarot, sinto que me aproximei um pouco mais da minha sombra (caso tenha curiosidade, procure sobre Jung; ele fala sobre esse conceito). Logo no começo do mês, em uma tiragem, cinco de Copas. Embora eu não tenha intencionado essa carta para mim, sinto que os aspectos dela se costuraram com os desafios que me fizeram precisar pausar e me trouxeram uma descoberta sobre mim: eu me demoro demais em lugares, manias, hábitos, relações, fases, obsessões e por aí vai, que não me fazem bem. E o “engraçado”, para não dizer que é trágico, é que a maioria das coisas às quais eu me prendo, se eu paro para ver em terceira pessoa, são tão poucas diante de tudo que hoje eu compreendo e reconheço que mereço.
O cinco de Copas fala sobre aquilo que não existe mais, mas também sobre aquilo que ainda existe ou que há de existir. Foi nessas que me toquei de que passei a vida vivendo como se tudo fosse a última oportunidade – e veja lá… setembro, em suas lições, foi uma descoberta perceber que, se todo dia temos uma nova oportunidade de ser alguém melhor, por que raios aquilo a que nos apegamos cria o sentido de que aquela peça é única, e passamos de forma automática a defender aquele “bem” tão precioso que acabamos esquecendo ou simplesmente deixamos de voltar o nosso olhar para onde é necessário olhar e cuidar com mais afinco: nós mesmos.
Hoje é 29 de setembro, segunda-feira, e nesta manhã, enquanto escrevo com muito sentimento uma pequena parte do que foi esse mês, outra parte de mim, de forma repetitiva, diz: “não são nem meio-dia e você já se traiu quase que uma centena de vezes”. É sutil como eu me demoro, tá vendo? Em outras palavras, é estranho para mim até hoje saber quando estou procrastinando ou quando só estou podendo viver a vida com mais calma depois de ter feito tanto nos últimos anos.
Quando pensei nesta categoria de escrita, tentei transformar o que antes era intitulado de “carta para […]” – acho que dessa forma consigo fazer outra leitura sobre como ando experimentando minha vida. Desde que entendi que escrever me encaminha para outro estado de lucidez, passei a encarar isso como um momento em que posso ajudar o processo do outro também. É como a dor… eu sei; minhas ideias ao longo de tudo que escrevo vão e vêm, e no fim o estado em que se fica é de paralisação. Ao menos é essa a sensação que tenho quando respiro fundo para reler o que escrevo. O fato é que, nesse fim de setembro, caiu a ficha de que talvez eu tenha passado tanto tempo tentando sobreviver a inúmeros episódios de dor que sustentei ao longo de tudo que vivi, que, nos últimos dez meses, passei pelo luto mais intenso de todos os tempos, e eu brinco dizendo que é o luto acumulado (rsrs).
Setembro quase me acaba, mas acho que tem a ver também com a tal energia virginiana e os eclipses – sim, eu tenho esse lado e não culpo os astros pelo que acontece. Vi que, quando passo a me organizar melhor por dentro, as coisas aqui fora passam a fluir de um jeito muito peculiar e gostoso de sentir.
Em setembro, revi amigos e me vi, pela primeira vez em meses, não me sentindo tão deprimida. Perdi familiares, perdi um sonho que estava mais próximo de se realizar, perdi uma parte de mim, quer dizer, várias. Perdi a vontade de ficar, perdi a vontade de esperar, perdi a vontade de fazer com que as pessoas entendam a forma como sinto e como me encaminho para o que hoje acaba fazendo mais sentido para mim. De alguma forma, sinto também que perdi uma parte de mim que existia quando morava em Brasília. São tantas perdas, mas necessárias. São tantos lutos acumulados e finalmente sinto que estão dissipados.
Sinto que saio desse mês mais forte e um pouco mais íntima de mim mesma. Sinto que entendi que essa paz que sinto hoje faz parte de toda permissão que tenho dado cada dia que passa a mim mesma para me cobrar menos pelo que ainda não tenho.
Por fim, neste mês completou 9 anos desde que tentei tirar minha própria vida e isso é uma vitória para mim. Foi quase que no último segundo do tempo que entendi que eu precisava achar uma forma de amar viver – engraçado que, depois dessa, a vida foi me apresentando desafios para testar minha sanidade… eu saquei que, a partir do momento em que eu decidisse agir por mim mesma e me escolher sempre, eu olharia para a vida com outros olhos. Ao me enxergar primeiro, ao me cuidar primeiro, ao me amar primeiro, as coisas aqui fora ficam como aquele típico domingo em que acordo com calma e termino o dia na praia. Tudo passa a fazer sentido outra vez.


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