O que nos mantém presos a lugares, relações, vícios e hábitos que já não fazem mais sentido? O que, exatamente, nos faz ficar? O medo de errar, de perder, de nos perder? Ou só a preguiça (ou estagnação) de mudar as coisas porque dá trabalho?
Na newsletter deste domingo (clique aqui para assinar), a reflexão foi sobre o que nos paralisa. A partir de alguns insights, pude expandir mais o assunto e dissertá-lo aqui. Exemplificando, lembro-me quando eu mesma ignorei por meses o que já estava claro: eu precisava realizar mudanças em minha vida. Eu sabia, sentia, mas ainda encontrava desculpas. Afinal, era mais fácil acreditar que aquilo que eu vivia poderia melhorar do que admitir que eu estava me traindo ao permanecer da mesma forma. Viktor Frankl, em Em Busca de Sentido (a propósito este livro é transformador), fala sobre como podemos encontrar propósito até mesmo no sofrimento – mas também nos lembra que, às vezes, a liberdade está em escolher partir.
Se soubéssemos que não há uma linha de chegada, apenas o caminho, será que ainda passaríamos tanto tempo tentando planejar a “estratégia perfeita” para um jogo que ninguém ganha? Sartre já dizia que estamos condenados à liberdade, o que significa que a angústia de escolher e arriscar faz parte do pacote da existência. Mas, se a vida não tem roteiro fixo, por que insistimos tanto em querer seguir um script que já não nos cabe?
A segurança que buscamos pode ser a mesma que nos prende. O conforto, uma ilusão que nos mantém onde não deveríamos mais estar. Pequenas doses diárias de algo que, um dia, parecerá grande demais para carregar – tipo aquele compromisso que você aceitou sem pensar e agora precisa inventar uma desculpa para escapar, sabe!? Já passei por isso incontáveis vezes. Como naquela relação em que, mesmo vendo os sinais, preferi me convencer de que era apenas uma fase. Só que algumas fases duram tempo demais e acabam se tornando prisões.
Carl Jung dizia que “aquilo a que resistimos, persiste”. O medo de encarar a mudança não faz com que ela desapareça, só adia o inevitável. Freud, por outro lado, falava sobre a compulsão à repetição, esse padrão de nos mantermos presos a dinâmicas que nos são familiares, mesmo quando nos fazem mal. É por isso que tantas pessoas ficam paralisadas diante da necessidade de mudança – porque, no fundo, sair do conhecido é assustador, por mais doloroso que o conhecido seja.
Então, vale perguntar: o que, de fato, nos protege – e o que apenas nos aprisiona?
O medo do desconhecido sempre estará lá. Mas e se, ao invés de paralisar, ele pudesse nos mover? Brené Brown, em seus estudos sobre vulnerabilidade, fala sobre a coragem de abraçar o incerto. O desconhecido nem sempre é ameaça – às vezes, é a única chance real de liberdade.
Talvez a gente não precise de uma revolução interna a cada amanhecer. Talvez baste uma pergunta honesta: o que em mim já sabe que precisa ir, mas ainda encontra desculpas para ficar?
P.S.: Se a resposta já estiver aí, aconselho que apenas a aceite e faça o que for necessário. Afinal, você não precisa concordar para reconhecer que algumas coisas simplesmente são como são.
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