Carregamos dentro de nós marcas invisíveis, feridas que moldam nossas reações, crenças e relações. Muitas vezes, sem perceber, projetamos nossa dor no outro, reagimos impulsivamente, esperamos que o mundo ao redor resolva aquilo que dói em nós. Mas e se assumíssemos a responsabilidade pelo nosso próprio estado emocional?
Como nos lembra Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito, vulnerabilidade não é fraqueza, mas a chave para a verdadeira conexão. Resistir à dor, escondê-la ou despejá-la no outro apenas nos mantém presos em ciclos de sofrimento. O autoconhecimento exige coragem: olhar para dentro, encarar nossas feridas e decidir o que fazer com elas.
Nossas reações emocionais são pistas. A raiva contida, a irritação que explode, o ressentimento que se arrasta – tudo isso fala mais sobre nós do que sobre os outros. A questão não é o que o outro fez, mas como escolhemos reagir. Negar a dor não a faz desaparecer. Precisamos escutá-la e acolhê-la para transformá-la.
É comum resistirmos à ideia de que, em alguns momentos, nos comportamos como crianças machucadas, buscando reconhecimento, proteção ou validação. Mas amadurecer emocionalmente significa perceber que ninguém pode nos salvar de nós mesmos. Nossa cura não vem de fora.
Então, o que fazer com nossas feridas? Podemos transformá-las em aprendizado ou seguir nos ferindo e ferindo os outros. Isso exige inteligência emocional, tempo, paciência e, muitas vezes, terapia. Parar, respirar, contar até dez. Observar antes de reagir. Diferenciar o que queremos agora do que realmente precisamos.
Se colocar em primeiro lugar não significa ignorar o outro, mas reconhecer que só podemos oferecer amor, respeito e cuidado quando cultivamos isso dentro de nós. Culpabilizar o outro nos prende ao passado, enquanto assumir nossas responsabilidades nos liberta. O que precisa terminar para que possamos começar algo novo dentro de nós?
Nossos valores, princípios e escolhas definem nosso caminho. O passado ensina, o presente nos dá oportunidade de agir diferente e o futuro será consequência disso. Olhar para nossa dor sem transformá-la em veneno nos permite curá-la. Como bem disse Viktor Frankl em Em Busca de Sentido, não podemos controlar tudo que acontece conosco, mas podemos escolher como reagir.
Não se trata de ignorar o que sentimos, mas de aprender a expressar sem destruir. Respirar fundo. Dar um passo atrás antes de explodir. Escutar mais. Perguntar a si mesmo: o que é meu e o que é do outro? A guerra que travo vale o desgaste?
Escolha semear boas conversas, boas relações, bons caminhos. O que você cultiva hoje define os frutos que colherá amanhã. Porque, no fim das contas, não se trata apenas de sentir dor, mas de decidir o que fazer com ela.
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