Quanto mais buscamos, mais distante estamos – será que sabemos ao certo o que queremos ou continuamos a reproduzir modelos fracassados de relacionamento?
Durante a escuta clínica, temas sobre relacionamento romântico têm emergido com mais frequência – pessoas exaustas, sobrecarregadas de encontros, mas carentes de vínculos. Sentem solidão mesmo acompanhadas, não suportam frustrações mínimas e vivem com a sensação de que “sempre falta algo”. Dessa forma, tenho refletido sobre a busca e sobre a nossa capacidade de sustentar o que buscamos. E se acharmos? Conseguiremos bancar esse desejo? E mais: como estamos lidando com a nossa falta, com a pressa e com a ânsia de sermos vistos?
Instigo elaborarmos em que lugar estamos e qual noção temos para experienciar o que hoje já tem sido mais conhecido como “amor gasoso” – essa também é nova para mim, confesso que mal consegui compreender o tal do amor líquido e quando me deparei com essa nova onda, logo me veio um pensamento: qual custo teremos a longo prazo ao nos permitir ser acessados de forma tão rápida e sem filtro? Aqui volto a Bauman, que apresenta em Amor Líquido como os vínculos se tornaram frágeis porque não suportamos esperar ou permanecer. Se ele falava em líquido, hoje parece que fomos além: as coisas se evaporam facilmente em nossas vidas.
Buscar amor é correr atrás de um reflexo: quanto mais nos aproximamos, mais ele se distancia. Ser amor é outra coisa: é sustentar em si aquilo que desejamos encontrar fora. E aqui está o paradoxo: a maioria busca para não encarar a própria solidão. Portanto, estar acompanhado se torna anestesia, como se a presença de alguém fosse suficiente para silenciar o buraco que está em nós. Mas me prontifico a dizer que a solidão, quando atravessada, revela se somos capazes de nos sustentar antes de exigir que alguém nos sustente.
Voltando a alguns anos atrás, se fizermos uma comparação superficial, repare como eram as relações antes de existir os aplicativos de relacionamento, mas para além disso, repare em como a espera era um lugar muito mais agradável de estar – a pressa nos devora e talvez seja por isso que logo menos buscamos outra coisa. Talvez seja essa outra novidade que nos dê a falsa sensação de que dessa vez vai… saber o que estamos buscando, saber o que precisamos, mas principalmente saber se individualmente, antes de buscar, eu consigo entregar algo que corresponda. Como disse Roland Barthes em Fragmentos de um discurso amoroso, amar é também suportar a espera, habitar o vazio entre uma palavra e outra. E hoje quase não suportamos nem o intervalo entre uma mensagem e sua resposta.
Percebo pessoas carentes, e que se disponibilizam facilmente a atender esse chamado, que no fundo nem sabem de onde vem. Byung-Chul Han, em A Agonia do Eros, chama atenção para esse ponto: quando não suportamos a alteridade, buscamos apenas reflexos de nós mesmos, ou seja, perdemos a capacidade de lidar com o outro, buscando relações de consumo e que são descartadas facilmente. Sendo assim encontrar nunca foi tão fácil, mas sustentar nunca foi tão difícil. Não é à toa que no cinema encontramos a narrativa dessa fragilidade. Em Her, de Spike Jonze, o protagonista se apaixona por uma inteligência artificial que nunca falha, nunca frustra, está sempre disponível. Mas esse “amor perfeito” é insustentável no real – existe a conexão rápida, a sensação intensa, mas que não cria raiz.
E aí ficam as perguntas: você está buscando amar ou está tentando fugir de si mesmo? Você confunde intensidade com profundidade? Você está preparado para sustentar um vínculo ou só deseja a adrenalina da novidade? Você consegue lidar com as imperfeições do outro sem transformar em motivo para desistir? E por fim: você sabe oferecer para o outro o que tanto exige?
O paradoxo da busca é esse: quanto mais corremos atrás, mais longe ficamos. O que tanto buscamos fora não compensa a ausência de dentro e o amor que permanece não se encontra pronto, mas sim, se cultiva, se rega e se escolhe todo dia. Então antes de perguntar “onde está o amor?”, talvez caiba perguntar: “eu consigo ser amor?”.


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